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jigajoga

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11
Ago25

Novas Conversas com Coisos - jornalistas e moderador

Alface do Campo

Breves notas biográficas dos dois jornalistas permanentes e do moderador das NCCC.

Julião Marco Trambolho, rapaz da direita liberal, pai de oito filhos, que se tornou conhecido por ter pronunciado o discurso de abertura do Campeonato Nacional de Jogo do Galo em 2012.

Filho de um industrial de chapéus de feltro, cujo negócio em decadência foi salvo pelo 25 de Abril, quando começou a produzir boinas para os revolucionários de fresca data e depois se reconverteu para o artesanato em feltro com o advento do turismo. Julião, filho único, foi educado num colégio militar pois o pai acreditava nas virtudes da disciplina. Graças a uma bolsa da Gulbenkian, licenciou-se em Gestão em Newark, Texas (embora ainda hoje esteja convencido de que estudou no Massachusetts e estranhe sempre, em conversa, nunca ter visto o mar nem conhecido ninguém da numerosa comunidade portuguesa) com equivalência em Teologia aplicada à Fiscalidade.

Achando os lugares que se lhe ofereciam na sua área muito áridos e sem oportunidade de dar largas à sua veia criativa, começou a colaborar com revistas de economia e a escrever pequenas resenhas económicas em jornais.

Casou com a sua namorada de juventude, hoje dentista.

Em 2012, quando ainda tinha apenas dois filhos, foi convidado para fazer o discurso de abertura do Campeonato Nacional de Jogo do Galo, em substituição de Cristiano Ronaldo, que estava afónico. Foi nessa ocasião que pronunciou a frase, agora histórica: "É entre o Xis e o Zero que cabe toda a vida!"

A partir daí, tornou-se presença quase obrigatória em programas de comentário e começou a colaborar como colunista no jornal "O Valor Nacional" onde a sua crónica “Portugal precisa de menos luxúria e mais couves” se impôs como um clássico, tendo já sido objeto de uma dissertação de mestrado em Ciências da Comunicação.

Reclama-se da "direita civilizada e liberal". Baixote e já a ganhar uma barriguinha, o seu sorriso fixo e os olhinhos piscos por detrás dos óculos de fundo de copo-de-três dão- lhe um toque um pouco caricato, que ele usa a seu favor, começando muitas vezes as suas declarações mais polémicas por "Eu sei que ninguém me leva a sério, mas..."

Samuel Alfarrobeira, esquerdalho impenitente, como ele próprio se descreve, nasceu para a participação cívica e política aos 20 anos, quando foi candidato à presidência da associação de estudantes da Faculdade de Letras de Coimbra. Foi derrotado por uma lista anarquista e costuma contar, em almoçaradas com amigos, entre gargalhadas, que a lista vencedora se dissolveu no próprio dia da eleição. “Claro que acabei por ficar eu e a minha lista, que tínhamos ficado em segundo lugar, mas pelo menos ainda falávamos uns com os outros, não é?” e completa sempre com “Eu até gosto dos anarquistas, pá, são malta porreira, mas muito sectária! E dispersam-se muito. Gente boa, mas com pouco fundo!”

Filho de um casal cordialmente desavindo da burguesia intelectual lisboeta, cresceu numa casa frequentada por artistas e escritores, aprendeu a ler no “Diário de Lisboa” e na adolescência, já vivida no pós 25 de Abril juntou-se à Juventude Comunista. Foi evoluindo politicamente até se aproximar da esquerda moderna e plural, mas manteve sempre resquícios da austeridade comunista – uma certa frugalidade militante e o gosto por debates infindáveis sobre moções com quinze alíneas.

A ida para Coimbra foi, ao mesmo tempo, um rasgo de independência e uma missão: ia trazer para a modernidade aquela Academia cheia de tiques tão antigos que já eram quase arqueológicos.

Embora fosse bom aluno, a política, e logo a seguir o amor, entretanto descoberto, pelo jornalismo, fizeram-no deixar a licenciatura por terminar.

Samuel tem uma voz profunda e agradável e uma prosódia escorreita. A sua barba curta e cerrada e as sobrancelhas escuras e espessas enquadram um rosto sobre o redondo, que um sorriso agradável, e até um pouco malandro, ilumina de vez em quando.

É sempre muito sério, mesmo quando conta piadas, e tem sempre um comentário a fazer, seja qual for o assunto, pois dá ideia de saber de tudo um pouco, embora por vezes esse pouco seja mesmo muito pouco, quase nada.

Gosta de esmaltar o discurso com citações inesperadas como “Ouvi dizer que o mundo acaba amanhã/E eu tinha tantos planos pra depois”, de uma canção dos Ornatos Violeta, que usa quando se começa a discutir prazos na Justiça em Portugal ou nas obras públicas, ou “Quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem.” de Rosa Luxemburgo, quando se lamenta a fraca participação dos portugueses na política.

Não tem a mínima paciência para o seu colega JM Trambolho, mas parece estar condenado a participar sempre em painéis onde Trambolho também está.

É presença regular no podcast “Dialécticas e Fracturas”, onde se orgulha de “não simplificar para agradar, porque nem sempre o que é simplificado fica efetivamente simples”.

Salvador Aflito tem o apelido perfeito. É bom rapaz, cheio de boa vontade, é correto e cumpridor, mas, por acaso ou malapata, acaba sempre em situações embaraçosas, perigosas ou, no mínimo, estranhas.

Natural do Barreiro, filho de um operário metalúrgico e de uma costureira, sentiu desde miúdo o misterioso apelo do palco. Aos 15 anos fez o seu primeiro curso de Teatro e o bichinho, que já estava latente desde que, em miúdo, representava todos os papéis dos livros de quadradinhos do Tio Patinhas frente ao espelho do guarda fatos dos pais, floresceu forte e viçoso.

Como o rapaz era jeitoso, alto e elegante, e tinha uma belíssima voz, os pais apoiaram-no nesta vocação. Inscreveu-se num Curso Profissional de Artes Cénicas que terminou com boas notas. Como Prova de Aptidão Profissional, a turma encenou o Auto da Índia e Salvador foi o melhor Juan de Zamora que aquela escola tinha visto, apesar de, num momento romântico, as calças lhe terem caído e ter ficado em boxers cor de laranja com pinguins em frente da plateia.

A partir daí, nunca esteve muito tempo sem trabalhar, mas o azar pareceu persegui-lo: arranjou um pequeno papel numa peça no Teatro Experimental de Cascais e o ator principal, no entusiasmo da representação, pregou-lhe um valente par de bofetadas. A coisa correu tão bem, que o encenador resolveu incluir as bofetadas verdadeiras na peça e, durante um mês, o pobre Salvador foi esbofeteado todas as noites.

Em seguida, teve um papel numa telenovela mas a sua personagem era míope e ele, sempre cumpridor e zeloso, levou o papel tão a sério que esbarrava frequentemente nos candeeiros da rua e nos sinais de trânsito. Passou seis meses cheio de mazelas e nódoas negras.

Depois, conseguiu um papel numa série de Televisão espanhola, passada num hospital, onde a sua personagem sofreu um grave acidente no primeiro episódio, e passou o resto do tempo enrolado em ligaduras e sem dizer nada além de uns ruídos roufenhos.

Quando viu o anúncio do casting para apresentar noticiários televisivos, lá foi – sem grandes esperanças, diga-se – mas acabou por ser admitido para um estágio na RTP2, onde a sua boa voz e o seu treino teatral o ajudaram a manter-se. Já lá estava há quase dois anos quando, num casting interno para um novo programa de infotainment, Novas Conversas com Coisos, reedição de um outro que tinha riscado como um cometa o céu do comentário político vinte anos antes, e sido bruscamente interrompido por tricas internas, e por um equívoco que Salvador começou por considerar feliz, alguém fez constar que ele era sobrinho de uma pessoa influente. Claro que foi o escolhido. Mal ele sabia o que o esperava...

 

 

 

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