CONTRIBUTOS PARA UMA ENCICLOPÉDIA DA COISOLOGIA
(Versão revista, ampliada e melhorada por 20 anos de experiência da autora)
UM O Coiso é uma figura que abunda por toda a parte. Pode ser homem ou mulher (mas sempre uma das duas coisas, porque o Coiso não gosta cá de modernices!), é sempre conservador e quando o Criador estava a distribuir os cérebros não apanhou grande coisa (e, se apanhou, não usa muito para não estragar). Isso não o impede de ter opinião sobre tudo e um par de botas.
DOIS Para o Coiso que é Coiso impõe-se um fundamental artigo de fé: amor é amor e sexo é «uma porcaria». Assim, o Coiso sente amor pelos filhos (enquanto heterossexuais com provas dadas, está visto!), por Deus, pela própria mãe e, em casos raros, pela legítima esposa. Claro que também assume o seu lado de «porco», ou pelo menos de «leitão», vá, e faz a sua dose de «porcarias» com umas «gajas» a quem, de resto, considera «umas porcas». O lado reprodutivo inclui, como não podia deixar de ser, camisas de noite em contraplacado, com um buraco no sítio certo, devidamente enquadrado por crucifixos e outra parafernália religiosa. É um acto sacramental e sacrificial, necessário à continuação da espécie. E é porque a sua atividade sexual não tem grande interesse, que o Coiso se preocupa tanto com a atividade sexual dos outros.
TRÊS Há que distinguir vulgar «porco» (o Coiso acima descrito, que se purifica da «porcaria» na missinha dominical, confissão periódica e penitência) do Porcalhão. Este último é um indivíduo desclassificado, provavelmente homossexual, esquerdista convicto e que aborta à média de umas duas vezes por semana, prática nefanda provocada pelos excessos a que se dedica nas orgias que frequenta e que estão pejadas de gente desclassificada do mesmo sexo, defensores da eutanásia e de outros horrores.
QUATRO O Coiso é homem (ou mulher) de valores. Acredita na autoridade, na estabilidade, na lealdade e noutras coisas acabadas em «ade» e pespegadas em cartazes azuis à beira das estradas. Acredita em Deus, na Pátria e na Família, sobretudo se for numerosa. O Porcalhão, pelo contrário, acredita nesse mito chamado Democracia, ou diz que acredita, porque se sabe de fonte segura que o Porcalhão é incréu de pai e mãe.
CINCO O Coiso é Católico, Apostólico e Romano. Ou Evangélico. Ou outra coisa qualquer. O Coiso é um homem de fé, ao contrário do Porcalhão que é, inevitavelmente um jacobino trotskista, radical e situado lá para a esquerda do Partido Comu... Comunis..., bem dessa coisa, em suma. Diz ele que a sua fé é no homem, mas o Coiso sabe bem o que ele quer do homem, o grande Porcalhão!
SEIS O Coiso foi chamado por Deus para salvar a humanidade, queira a humanidade ou não. É para cumprir essa missão divina que o Coiso procura furar em busca de poder e de influência. É essa missão que faz do Coiso um grande descobridor de vocações e um implacável denunciante das vis tentativas de doutrinação levadas a cabo pela Esquerdalha (nome artístico do conjunto dos Porcalhões). É essa missão que leva o Coiso às redes sociais e aos meios de comunicação, contrariado e com sacrifício, porque, por obrigação religiosa, o Coiso devia cultivar o recato e discrição. Mas pronto, é por uma boa causa, diz ele nas suas orações.
NOTA FINAL E AVISO Há Coisos estúpidos e espertos, burros como maçanetas de porta e inteligentes como raposas, há Coisos que têm uma relação complicada com a Ortografia e com a Sintaxe e Coisos que escrevem com elegância clássica. Há Coisos brutos como javalis bêbados e Coisos educados, encantadores e amáveis como príncipes de novela. Há Coisos pobres como Job e ricos como Cresus. É a coisice que os une e a coisice é, ao mesmo tempo, um estado de alma e uma vocação. Ninguém nasce Coiso, é um processo.
