Um mundo a que já não pertenço e cujos habitantes já não compreendo
Foi a sensação que me tomou hoje. Foi nisso que, a pouco e pouco, insidiosamente, a escola se transformou.
Hoje tinha um aluno de 10° ano a pintar a aguarela na aula de Português. Com o estendal completo, caixa de aguarelas, água, pincel e caderno (suponho que o Diário Gráfico que mantêm para a Disciplina de Desenho) em cima da mesa, completamente absorvido na tarefa. Durante a aula e enquanto eu lhes falava sobre Eça de Queiroz e Os Maias, cujo estudo vamos iniciar. Estava a mostrar-lhes coisas, fragmentos de escrita, fotografias. Ralhei com o moço mas ele retorquiu que não era nada demais porque até estava a ouvir o que eu dizia.
Quando me queixei ao Diretor de Turma deste comportamento, para mim inaceitável, este disse-me que sou eu que tenho de definir melhor as regras na minha aula, pois na dele (Filosofia) não se importa que os alunos estejam a pintar, uma vez que são alunos de Artes...
A escola, para onde durante os últimos 38 anos sempre fui com prazer, parece-me pela primeira vez um mundo estranho a que não pertenço e cujos habitantes já não compreendo. Não sei como vou aguentar os 4 anos que faltam para me reformar.
