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jigajoga

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25
Mai20

A vergonha perdida

Alface do Campo

Vão aparecendo, hoje um aqui, dois noutro lado, escritos de opinião que, virados e espremido, dizem todos o mesmo: isto da quarentena e do isolamento foi um grande erro, afinal a covid-19 não é grande espingarda, só morrem os velhos, os gordos, os doentes crónicos, gente que, vamos lá ser realistas, já era pouco produtiva à partida e ia morrer mais tarde ou mais cedo, e para proteger meia dúzia de de pessoas que não produzem riqueza foi-se parar a economia.

Gente má, insensível, incapaz de empatia sempre houve e haverá. O problema é que agora, por detrás de um ecrã e de um teclado, ou com uma coluna de jornal à disposição, com exemplos de gente má, insensível e incapaz de empatia guindada a dirigente de grades países (parece que na melhor democracia cai o ditador de pacotilha) , essas pessoas perderam a vergonha. E mete medo ler alguns artigos de opinião... 

08
Mai20

Era bem capaz de me habituar a isto

Alface do Campo

relogio-de-cuco.jpg

Habituava-me na boa a esta nova realidade de ter tempo para fazer as coisas ao meu ritmo. É o único lado bom desta coisa, a capacidade de gerir o meu dia de trabalho como melhor me parece.

Acordar sem sobressalto, porque apesar de o despertador continuar a tocar, passei a hora de acordar das 6:45 para as 8:00; poder ficar mais cinco minutos a acabar de acordar, fazer a toilete nas calmas, beber o meu café com leite e comer a minha sanduiche ou as minhas bolachinhas (ou o meu Donut) sentada, em paz e sossego e depois abrir a agenda e ver o dia que me espera. Há dias mais carregados, como a segunda feira, em que a moça mais nova tem a sua sessão de psicologia ocupacional logo pela manhã, em que o plano semanal de trabalho da minha direção de turma tem de ficar pronto e em que impus a mim mesma não me deitar sem ter os mails que devo mandar a alunos e encarregados de educação com as correções do trabalho feito e as tarefas para a semana ou quinzena seguinte já escritos, verificados, com os competentes anexos e pré-agendados para seguirem viagem bem cedo na manhã seguinte. Há dias mais aventurosos, como a sexta feira, em que tenho sessão síncrona de esclarecimento de dúvidas com os meus mafarricos do 8º ano e nunca sei quem vai estar nem quais as dúvidas que me vão colocar, ou se não é desta que o microfone vai tomar o freio nos dentes ou a internet vai cair misteriosamente. E há dias de relax puro, como a quarta feira em que já despachei a correção dos trabalhos da semana anterior, já tenho os da semana seguinte alinhavados, e posso dar a mim mesma um dia sem stress.

Atenção, que isto não é o paraíso. Tenho tantas saudades dos miúdos, das colegas, dos intervalos no bar da escola, a tomar um café ou a comer um iogurte numa pressa antes da próxima aula, de ir ao cinema com as filhas, de passear a ver montras,  de almoçar com as amigas...! Tenho tantas saudades dos almoços de família aos sábados, de ver a minha mãe e a minha tia, que estão apenas a duas dezenas de quilómetros mas que não vejo há quase dois meses, como não vejo os meus irmãos, as cunhadas, a sobrinha caçula... Isto custa, sim, isto tem um lado menos bom. E não subestimo as dificuldades por que sem dúvida estarão a passar as pessoas que perderam o emprego ou a sua fonte de rendimento, os pequenos negociantes, as lojinhas de bairro - aliás, assim que o meu café do costume reabrir, tenciono ir lá todos os dias tomar o pequeno almoço, mesmo que isso implique levantar mais cedo. Não igonoro o medo e o sofrimento das famílias que têm gente doente, dos avós privados da companhia dos netos. Mas, sendo optimista e vendo as coisas pelo seu lado melhor, ter tempo é um luxo. A vida que levávamos tinha feito essa maldade de transformar o tempo num luxo a que a maioria de nós não se podia permitir. Agora podemos. Perdemos muitas coisas, uns mais, outros menos, mas todos perdemos qualquer coisa. É verdade. Mas ganhámos tempo.

03
Mai20

Às vezes até parece...

Alface do Campo

A pandemia e o confinamento trouxeram à superfície muita coisa boa, sobretudo pequenas coisas boas: melhor vizinhança à janela do que havia em pessoa, entreajuda, criatividade em todos os campos, tempo livre para quem não o tinha há muito, convívio familiar para quem andava privado dele e nem reparou na falta que lhe fazia...

Infelizmente, também trouxe ao de cima uma quantidade absurda de estupidez (aqueles blogues onde, no mesmo dia e até no mesmo post, tão depressa não há epidemia nenhuma e é tudo um complot do comunismo internacional (o que quer que isso seja), como o governo é criminoso por querer aliviar o confinamento e ai, que vamos morrer todos carregadinhos de vírus (o tal vírus que não existe porque é uma conspiração do comunismo internacional para destruir a família, a cristandade e o mundo ocidental).

Sempre vai aliviando a monotonia, não é? 

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